Aracy Balabanian viveu personagens ligados a SP: Cassandra, no Arouche, e dona Armênia, que queria derrubar prédio na Paulista, ‘na chon’

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Atriz morreu nesta segunda (7), no Rio de Janeiro, aos 83 anos. Mas foi na capital paulista onde viveu os personagens mais marcantes de sua carreira, como a socialite Cassandra, do Largo do Arouche do humorístico ‘Sai de Baixo’, da TV Globo (1996-2002), e Filomena Ferreto, uma matriarca autoritária e possessiva em ‘A Próxima Vítima’. A atriz Aracy Balabanian na pele de Dona Armênia, da novela Rainha da Sucata (1990). Personagem inspirada nas origens da atriz queria derrubar o prédio do império de Maria do Carmo (Regina Duarte) na Avenida Paulista.
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A atriz Aracy Balabanian na pele de Dona Armênia, da novela Rainha da Sucata (1990). Personagem inspirada nas origens da atriz queria derrubar o prédio do império de Maria do Carmo (Regina Duarte) na Avenida Paulista
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Nascida em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, em uma família de imigrantes armênios, a atriz Aracy Balabanian se mudou para a cidade São Paulo ainda menina.
Foi aqui na capital paulista, ao assistir pela primeira vez a uma peça de teatro da companhia de Maria Della Costa, que ela decidiu que seguiria a carreira de atriz. Ela morreu nesta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, aos 83 anos, após mais de meio século de carreira.
“Eu chorei muito. Estava emocionada porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades”, relembrou a atriz em depoimento ao ‘Memória Globo’.
Aracy estudou na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD) e para Ciências Sociais, na USP, e fez parte do tradicional Teatro Brasileiro de Comédia (TBT), na Bela Vista.
Aracy Balabanian junto com a primeira formação de elenco da peça Hair, de 1969, em São Paulo
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Em São Paulo, ela também viveu personagens marcantes da carreira, como a dona Armênia, da novela Rainha da Sucata (1990). Na novela, a personagem era uma mãe superprotetora de três filhos homens, que tinha a obsessão de derrubar o prédio do império de Maria do Carmo (Regina Duarte) e colocá-lo “na chon” [no chão]. O prédio ficava na Avenida Paulista.
A personagem era inspirada nas próprias origens armênias da atriz e até hoje o bordão da Dona Armênia é um dos mais conhecidos da TV brasileira (veja mais abaixo).
“Minha mãe era uma mulher toda aplicada, mas nós tínhamos uma vizinha que falava muito alto, que se metia na vida de todo mundo. Então, eu fiz um pouco assim. Foi uma loucura o sucesso da personagem”.
A atriz Aracy Balabanian na pele de Dona Armênia, da novela Rainha da Sucata (1990). Personagem inspirada nas origens da atriz queria derrubar o prédio do império de Maria do Carmo (Regina Duarte) na Avenida Paulista
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Dona Armênia agradou de tal forma o público e a crítica que Silvio de Abreu convidou a atriz e os atores que interpretavam seus filhos (Marcelo Novaes, Jandir Ferrari e Gérson Brenner) para viverem os mesmos personagens em “Deus nos Acuda” (1992).
Decadência no Arouche
Miguel Falabella lamenta morte de Aracy Balabanian
Reprodução/Instagram
No Largo do Arouche, no Centro, Aracy também viveu a decadente socialite Cassandra. O humorístico foi ao ar na TV Globo entre 1996 e 2002, gravado no Teatro Procópio Ferreira, na Rua Augusta. O programa, exibido no domingo à noite, era gravado ao vivo com plateia.
“Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo ator: teatro e televisão, ao mesmo tempo. Só que era um espetáculo ensaiado em uma tarde”, lembrou a atriz.
‘Sai de Baixo’ também era estrelado por Luis Gustavo, Miguel Falabella, Marisa Orth, Cláudia Gimenez e Tom Cavalcante, e teve seis temporadas.
Aracy Balabanian como Cassandra em ‘Sai de Baixo’
Reprodução/ TV Globo
“Marisa Orth e eu fomos as primeiras a chegar para o Daniel Filho e dizer: ‘Não vai dar, tira a gente’. Mas eu acho que nós fomos ficando sem-vergonhas e descobrimos que o público gostava mesmo era de nos ver errar. Quando passou esse susto de ‘não podemos errar’, a gente se divertiu muito”.
Outra novela ambientada em SP e estrelada por Aracy foi ‘A Próxima Vítima’ (1995), também de Silvio de Abreu. Na produção, a atriz interpretou Filomena Ferreto, uma matriarca autoritária e possessiva.
“Tudo na personagem era duro, mas, lá no fundo, era uma manteiga derretida. Também me identifiquei demais com a Filomena porque ela era uma bobona com a sobrinha dela. Eu não tive filhos, mas criei uma sobrinha”, contou Aracy ao Memória Globo.
O papel lhe deu o prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Uma das formações do elenco do humorístico de ‘Sai de Baixo’, da TV Globo, nos anos 2000.
REprodução/TV Globo
Início da carreira
Quando tinha 14 anos, Aracy Balabanian assistiu no Colégio Bandeirantes, onde estudava, a uma palestra de Augusto Boal, então diretor do Teatro de Arena.
Convidada pelo dramaturgo, fez um teste e entrou para o Teatro Paulista do Estudante. Seu primeiro trabalho foi a peça ‘Almanjarra’, de Arthur Azevedo, que lhe valeu elogios dos críticos Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi.
“Eles escreveram uma crítica que terminava dizendo: ‘Aracy Balabanian: guardem esse nome’. Eu fiquei possuída”. Contou a atriz, que, anos depois, fez vestibular aos 18 anos para a Escola de Arte Dramática de São Paulo e para Ciências Sociais, na USP.
Já estudante uspiana, a atriz participou de espetáculos encenados pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) – entre eles, ‘Os Ossos do Barão’, de Jorge Andrade, em 1963 – e integrou o elenco da primeira montagem no Brasil do musical ‘Hair,’ em 1969, dirigido por Ademar Guerra.
Aracy Balabanian na capa do disco do musical Hair, de 1969.
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A montagem brasileira de Hair foi a primeira do Brasil e tinha no elenco nomes como Antônio Fagundes, Ney Latorraca e Sônia Braga. A produção levou para os palcos do antigo Teatro Aquarius, no bairro do Bixiga, no Centro, a questão racial, a nudez, a liberdade sexual, a guerra e as drogas.
Foi um grande sucesso que viajou para várias cidades do país e ficou em cartaz durante três anos, mesmo desagradando a Ditadura Militar – que havia instituído naquele ano o Ato Institucional 5 (AI-5) e havia censurado diversas cenas da produção.
Em São Paulo, Aracy também despontou para a televisão, onde integrou o elenco de teleteatro da TV Tupi, onde estrelou uma adaptação da peça ‘Antígona’, de Sófocles, para as telinhas, em 1965.
De lá pra cá foram mais de 30 novelas dela na tv. A primeira foi ‘Marcados pelo Amor’ (1965), de Walther Negrão, na TV Record. Em seguida, na Tupi, participou de ‘Um Rosto Perdido’ (1966), de Walter George Durst, e ‘Antônio Maria’ (1968), de Eloy Santos, um grande sucesso na qual foi o par romântico do ator Sérgio Cardoso.
A novela fez seu pai, fã do ator, finalmente aceitar sua escolha profissional: “Eu costumo dizer que o Brasil parou nessa novela e o meu pai parou em mim”, conta. Naquela emissora, participou ainda de ‘Nino, o Italianinho’ (1969) e ‘A Fábrica’, ambas de Geraldo Vietri, entre outras.
A atriz Aracy Balabanian no início da carreira na televisão.
Reprodução/Memória Globo
A estreia na Globo aconteceu em 1972, em ‘O Primeiro Amor’. Na novela de Walther Negrão, foi a psicóloga Giovana, que disputava o amor de Luciano (Sérgio Cardoso) com Paula (Rosamaria Murtinho) e Maria do Carmo (Tônia Carrero). Durante as gravações, Sérgio Cardoso morreu. “Foi uma comoção nacional. A novela teve que continuar. Ele foi substituído pelo compadre dele, o Leonardo Villar”.
Em 1973, trabalhou no programa infantil ‘Vila Sésamo’. Nele, viveu Gabriela, par de Juca (Armando Bógus), e contracenava com bonecos, como Garibaldo (Laerte Morrone). “Vinte anos depois, eu comecei a ver moças e rapazes me chamando de ‘minha Xuxa’. É muito gratificante saber que tem crianças que aprenderam a falar cantando a musiquinha de Vila Sésamo”.
Aracy Balabanian junto com o elenco do programa infantil Vila Sésamo, que foi exibida pela TV Globo a partir de 1972.
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Fonte: G1 Entretenimento